Sexta-feira, dia 17 de junho, restam então 49 dias para o inicio das olimpíadas, o governador interino comunica no Diário Oficial que o estado do Rio de Janeiro entraria em estado de calamidade, com problemas na segurança, saúde, educação e mobilidade. Ou seja, em tudo. Agora o que aconteceu com o estado para chegar nessa situação? A diminuição da renda por causa dos royalties, a aliança com então Governo Federal ou a continuação dos mesmos nomes da política por quase vinte anos? Para ser sincero, todos temos "culpas" inclusive a população que pagará a conta no final.
Para
analisar a situação do estado, precisamos entender o que aconteceu nos
últimos anos, passando pelas gestões de Leonel Brizola e Marcello
Alencar, onde
houve mudanças mínimas na educação e na saúde. Quando Garotinho assumiu,
não deu
continuidade a essas melhorias, com políticas populistas e o interesse
de ser
candidato a presidente em 2002, fez poucas mudanças nessas áreas, mas
elegeu sua esposa Rosinha Garotinho. Em sua gestão começaram as greves
na educação, o
sucateamento nas escolas e nos hospitais, houve o aumento do tráfico nas
regiões
da Zona Oeste e Zona Norte. Sem o que fazer, nomeou Anthony Garotinho
como Secretário
de Segurança, sem êxito. Na gestão Garotinho-Rosinha poucas mudanças
ocorreram, até mesmo quase nenhuma e envolvido por corrupção, o casal
saiu de
cena, dando lugar para aquele que até então era um dos deputados mais
votados, segundo
colocado nas eleições para prefeito e 1996 e com grande trabalho no
Congresso,
Sergio Cabral, aquele que para muitos salvaria o Rio que estava
abandonado por
oito anos, mas pelo visto, a incompetência continuava.
Cabral
venceria
as eleições com apoio de Lula, reeleito presidente em 2006. Após tomar
posse, vieram as promessas nas áreas da saúde, educação e segurança. Em
seu
primeiro mandato e com a eleição de Eduardo Paes para prefeito em 2008, o
estado e a cidade tiveram uma pequena melhora, mas os setores
continuavam
precários. Agora com a aliança dos governos, o Rio passou a ter um forte
investimento, mas foi direto para interesses eleitoreiros. Nesse período
surgiram UPAs e UPPs. As Upas seriam para diminuir as filas nos
hospitais,
principalmente na parte da emergência. Porém com a criação em diversas
partes
da cidade, pouco ou quase nada foi investido nos hospitais que
continuaram
abandonados e com o tempo as UPAs também começaram apresentar problemas,
devido
a falta de médicos e a falta de atendimento em alguns postos. Na parte
da
segurança vieram as UPPs. Com comunidades ocupadas pelas facções e
algumas pelas
milícias, que começaram aparecer nesse período, o governo estadual e a
secretaria
de segurança então criaram a Unidade da Polícia Pacificadora, retomando
essas
comunidades para os moradores, mas esse projeto se tornou falho, onde o
BOPE
invadia essas comunidades, não prendiam os bandidos e com isso esses
bandidos fugiam e iam para outras comunidades,
principalmente nas regiões de Niterói e São Gonçalo, aumentando a
criminalidade
naquelas regiões e claro, nas regiões da Zona Norte, Zona Oeste e
Subúrbio. Na
parte da mobilidade e educação, pouco foi feito. Em 2009, os
funcionários da
SuperVia entrariam em greve devido a péssima qualidade de trabalho,
vimos
também seguranças agredindo passageiros, além dos famosos atrasos que
persistiam naquele período, assim como a lotação dos trens. A empresa
não foi
multada e ainda teve a sua concessão entendida por mais 20 anos. Na área
da
educação, nada mudou, mas ficaram mais precárias e pouco foi investido.
Apesar desses problemas, Cabral seria reeleito governador no primeiro
turno, ficando mais quatro anos no governo.
Com
a reeleição de Cabral, o que seria prometido, começou a se tornar problema. Com
as UPPs quase em toda região da Zona Sul, a violência em outras cidades e
outras regiões se tornou uma constante. Comunidades passaram a conviver com um
tiroteio diário. As escolas abandonadas, assim como as universidades começaram
a enfrentar greves atrás de greves, assim como na área da saúde e em 2013, com
as manifestações de Junho, Cabral e Paes começaram a ser pressionados. O
governador então no seu segundo mandato começou a perder força, ainda mais
depois que seria descoberto suas idas á Paris e viagens de helicóptero com uso
de dinheiro público. Sérgio Cabral não resistiu e deixou o cargo nas mãos de
seu vice Pezão, que assumiria os meses finais do governo e também seria seu
substituto para o cargo onde foi eleito no segundo turno.
Nas
eleições, Pezão não citou em nenhum momento o seu padrinho Cabral, ao ser
eleito, agradeceu e nomeou o filho dele como um dos seus secretários. No seu
primeiro ano de gestão, a crise do Rio já estava começando a explodir. Com a
crise política e econômica do país e já com a verba bem menor dos royalties, o
governo do estado começaria a descumprir obrigações. Sem dinheiro para
investimentos, deixaria de manter os contratos, principalmente na área da saúde
em relação às OSs, iniciados na Gestão Cabral, com isso, terceirizados passaram
não receber salários e muitos seriam demitidos. Na educação, PMs que faziam
segurança nas escolas, deixaram de fazer esses serviços, além de terceirizados
como porteiros e serventes, que também ficaram sem receber. Na segurança, pouco
mudou e se mudou, foi para pior, diariamente policiais e inocentes são assassinados, o número de
assaltos e homicídios só aumenta e ficamos a mercê dos criminosos, presos em
nossas próprias residências. Na mobilidade, trens e metrôs apresentam problemas
diários, causando ainda mais uma superlotação e nenhuma punição para as
concessionárias.
Essas
causas que iniciaram em 98, com a Gestão Garotinho estouraram agora com o
Governo interino de Dornelles. Homicídios, greves, salários atrasados,
demissões, falta de atendimento e remédios, superlotação, UPPs com problemas e
uma cidade abandonada e nas mãos da criminalidade foram os grandes motivos para
que o governo entrasse em estado de calamidade. Realmente, não sei qual será o
futuro do Rio, mas se
continuarmos insistindo nessa continuidade iniciada em 99, será bem provável
que o Rio de Janeiro deixe de ser “maravilhoso”.
Joseclei Nunes (@JosecleiNunes) é
fundador e editor do blog Futebol Retrô. Escritor, graduando em
História. Ama futebol, política, escolas de samba e um bom papo de
botequim.
Curta nossa Página: Jovens Cronistas! (Clique)
Curta nossa Página: Jovens Cronistas! (Clique)