sábado, 25 de junho de 2016

Rio, A crônica de uma “tragédia” anunciada






Sexta-feira, dia 17 de junho, restam então 49 dias para o inicio das olimpíadas, o governador interino comunica no Diário Oficial que o estado do Rio de Janeiro entraria em estado de calamidade, com problemas na segurança, saúde, educação e mobilidade. Ou seja, em tudo. Agora o que aconteceu com o estado para chegar nessa situação? A diminuição da renda por causa dos royalties, a aliança com então Governo Federal ou a continuação dos mesmos nomes da política por quase vinte anos? Para ser sincero, todos temos "culpas" inclusive a população que pagará a conta no final.

Para analisar a situação do estado, precisamos entender o que aconteceu nos últimos anos, passando pelas gestões de Leonel Brizola e Marcello Alencar, onde houve mudanças mínimas na educação e na saúde. Quando Garotinho assumiu, não deu continuidade a essas melhorias, com políticas populistas e o interesse de ser candidato a presidente em 2002, fez poucas mudanças nessas áreas, mas elegeu sua esposa Rosinha Garotinho. Em sua gestão começaram as greves na educação, o sucateamento nas escolas e nos hospitais, houve o aumento do tráfico nas regiões da Zona Oeste e Zona Norte. Sem o que fazer, nomeou  Anthony Garotinho como Secretário de Segurança, sem êxito. Na gestão Garotinho-Rosinha poucas mudanças ocorreram, até mesmo quase nenhuma e envolvido por corrupção, o casal saiu de cena, dando lugar para aquele que até então era um dos deputados mais votados, segundo colocado nas eleições para prefeito e 1996 e com grande trabalho no Congresso, Sergio Cabral, aquele que para muitos salvaria o Rio que estava abandonado por oito anos, mas pelo visto, a incompetência continuava.

Cabral venceria as eleições com apoio de Lula, reeleito presidente em 2006. Após tomar posse, vieram as promessas nas áreas da saúde, educação e segurança. Em seu primeiro mandato e com a eleição de Eduardo Paes para prefeito em 2008, o estado e a cidade tiveram uma pequena melhora, mas os setores continuavam precários. Agora com a aliança dos governos, o Rio passou a ter um forte investimento, mas foi direto para interesses eleitoreiros. Nesse período surgiram UPAs e UPPs. As Upas seriam para diminuir as filas nos hospitais, principalmente na parte da emergência. Porém com a criação em diversas partes da cidade, pouco ou quase nada foi investido nos hospitais que continuaram abandonados e com o tempo as UPAs também começaram apresentar problemas, devido a falta de médicos e a falta de atendimento em alguns postos. Na parte da segurança vieram as UPPs. Com comunidades ocupadas pelas facções e algumas pelas milícias, que começaram aparecer nesse período, o governo estadual e a secretaria de segurança então criaram a Unidade da Polícia Pacificadora, retomando essas comunidades para os moradores, mas esse projeto se tornou falho, onde o BOPE invadia essas comunidades, não prendiam os bandidos e com isso esses bandidos fugiam e iam para outras comunidades, principalmente nas regiões de Niterói e São Gonçalo, aumentando a criminalidade naquelas regiões e claro, nas regiões da Zona Norte, Zona Oeste e Subúrbio. Na parte da mobilidade e educação, pouco foi feito. Em 2009, os funcionários da SuperVia entrariam em greve devido a péssima qualidade de trabalho, vimos também seguranças agredindo passageiros, além dos famosos atrasos que persistiam naquele período, assim como a lotação dos trens. A empresa não foi multada e ainda teve a sua concessão entendida por mais 20 anos. Na área da educação, nada mudou, mas ficaram mais precárias e pouco foi investido. Apesar desses problemas, Cabral seria reeleito governador no primeiro turno, ficando mais quatro anos no governo.

Com a reeleição de Cabral, o que seria prometido, começou a se tornar problema. Com as UPPs quase em toda região da Zona Sul, a violência em outras cidades e outras regiões se tornou uma constante. Comunidades passaram a conviver com um tiroteio diário. As escolas abandonadas, assim como as universidades começaram a enfrentar greves atrás de greves, assim como na área da saúde e em 2013, com as manifestações de Junho, Cabral e Paes começaram a ser pressionados. O governador então no seu segundo mandato começou a perder força, ainda mais depois que seria descoberto suas idas á Paris e viagens de helicóptero com uso de dinheiro público. Sérgio Cabral não resistiu e deixou o cargo nas mãos de seu vice Pezão, que assumiria os meses finais do governo e também seria seu substituto para o cargo onde foi eleito no segundo turno.

Nas eleições, Pezão não citou em nenhum momento o seu padrinho Cabral, ao ser eleito, agradeceu e nomeou o filho dele como um dos seus secretários. No seu primeiro ano de gestão, a crise do Rio já estava começando a explodir. Com a crise política e econômica do país e já com a verba bem menor dos royalties, o governo do estado começaria a descumprir obrigações. Sem dinheiro para investimentos, deixaria de manter os contratos, principalmente na área da saúde em relação às OSs, iniciados na Gestão Cabral, com isso, terceirizados passaram não receber salários e muitos seriam demitidos. Na educação, PMs que faziam segurança nas escolas, deixaram de fazer esses serviços, além de terceirizados como porteiros e serventes, que também ficaram sem receber. Na segurança, pouco mudou e se mudou, foi para pior, diariamente policiais e inocentes são assassinados, o número de assaltos e homicídios só aumenta e ficamos a mercê dos criminosos, presos em nossas próprias residências. Na mobilidade, trens e metrôs apresentam problemas diários, causando ainda mais uma superlotação e nenhuma punição para as concessionárias.

Essas causas que iniciaram em 98, com a Gestão Garotinho estouraram agora com o Governo interino de Dornelles. Homicídios, greves, salários atrasados, demissões, falta de atendimento e remédios, superlotação, UPPs com problemas e uma cidade abandonada e nas mãos da criminalidade foram os grandes motivos para que o governo entrasse em estado de calamidade. Realmente, não sei qual será o futuro do Rio, mas se continuarmos insistindo nessa continuidade iniciada em 99, será bem provável que o Rio de Janeiro deixe de ser “maravilhoso”.


Joseclei Nunes (@JosecleiNunes) é fundador e editor do blog Futebol Retrô. Escritor, graduando em História. Ama futebol, política, escolas de samba e um bom papo de botequim.

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