quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O escritor bêbado e a sua inspiração


Sempre fui um cara simpatizante da beleza feminina, algo conhecido como voyeur. Em minhas noites nos botequins do subúrbio do Rio de Janeiro busco encontrar aquela que seria a musa dos meus pensamentos, a protagonista dos meus romances.
Para os mais chegados, sou conhecido como o escritor bêbado da Zona Norte. Frequento os piores botequins da região, conhecer gente da pior espécie e digamos que seja um pouco respeitado por eles. Tenho alguns contos publicados e as personagens sempre são as mulheres que conheci por essas andanças da cidade. Uma vez estava em em botequim do Méier bebendo um Whisky de terceira linha até que entra uma linda mulher com cabelo de fogo. Creio que tinha mais ou menos 1,70 metro, ruiva, olhos azuis, um belo decote e um short preto, mas o que me chamou mais atenção era uma tatuagem em uma das pernas, não sei se era cobra ou dragão, afinal, eu estava bêbado.
Lembro que ela entrou, sentou no fundo do botequim, acendeu o cigarro e pediu uma cerveja. Ela estava sozinha e não sei se esperava alguém. Como um belo apreciador, comecei observa-la e esperar alguns minutos para ver se aparece alguém e caso isso não ocorra, quem sabe vou até ela e tomamos mais algumas no resto da noite.
Passou quase uma hora e era mais ou menos meia a noite e meia e resolvi ir até ela. Não sou nenhum modelo, mas gosto de usar o meu talento de escritor para tentar conquistar as mais belas mulheres com o argumento que as usaria como romance do meu próximo livro, mas difícilmente consigo êxito, porém sempre tento e fui até ela.
  - O que uma linda está no fundo de um bar bebendo sozinha?
  - Agradeço o elogio, mas não estou aberta para xavecos baratos.
  - Quem disse que estou te xavecando? Meu nome é Antônio, sou escritor e estou aqui para conhecer mais sobre a moça que pode ser a inspiração do meu próximo romance.
  - Então você é escritor?
  - Sim.
  - E por que eu seria uma inspiração?
  - Porque é difícil encontrar alguém assim do seu perfil por aqui.
  - E qual seria o meu perfil?
  - Não sei. Talvez seja uma mulher independente, com estilo mais alternativo e que não está aqui para dar papo a conquistadores baratos.
  - Digamos que seja isso, mas o que deseja?
  - Saber mais, pelo menos o básico da pessoa que pode entrar em meu romance.
  - Tudo bem então, meu nome é Marcella, moro aqui mesmo no Méier, sou estudante de geografia, gosto de ler suspense, ouço rock e só.
  - Pelo estilo da roupa e da tatuagem, imaginava do gosto pelo rock.
  - Sim, eu até tive uma banda, mas o que interessou em mim para que eu seja uma inspiração?
  - Seu estilo
  - Tudo bem então, pode sentar e vamos beber uma.
  
Ficamos até três horas da manhã bebendo e conversando. Falamos sobre livros, filmes, séries, música, relacionamentos e sexo. Nunca tinha encontrado alguém como ela e principalmente, conversar com alguém por muito tempo.
Passou mais alguns minutos até o bar fechar e a Marcella me convidou até sua casa. É a primeira vez que alguém me faria esse convite. Chegando em sua casa, conversamos mais sobre os assuntos quando estávamos no bar, ela abriu uma garrafa de whisky e colocou algumas músicas aleatórias do Rush, Led Zeppelin e Cat Stevens, me lembrando um pouco o Rob, personagem do livro Alta Fidelidade.
Conversa vai e conversa vem, fiquei pensado que estava com uma deusa do rock, no estilo Simone Simons, vocalista da banda Época, até que ela se aproximou de mim e eu fiquei bem nervoso, mas não poderia deixar passar essa chance, porque não é tão comum. Ao sentar do meu lado no chão da sala, resolvi abraça-la, falei algumas palavras e nos beijamos. Empurrei a mesinha para o canto sala, tirei lentamente o vestido dela, depois o short, deixando ela apenas de calcinha e sutiã. Ela era mais linda assim do que vestida. Conheci mais algumas tatuagens e comecei beijar seu corpo e nos amamos até o amanhecer. Com certeza esse momento será inesquecível.
Após esse dia, não trocamos contatos, cheguei a frequentar algumas vezes aquele bar no Méier e não a encontrei. Soube depois que ela se mudou para outro estado e assim foi embora a oportunidade de encontrar essa deusa de fogo novamente. Tempos depois fiz um conto inspirado nela e espero que ela leia e em breve a reencontre para repetir novamente aquela madrugada.
Imagem: Ernest Hemingway

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Seja a exceção da regra



Hoje faz dois anos e três meses que estou desempregado. Nesse período fiz cursos onlines, estudei dois idiomas, me formei na faculdade, leio três a cinco livros por semana e mudei meu currículo três vezes. Tudo seguindo as regras dadas pelos "coachings" do Recursos Humanos. E qual foi o resultado? Continuo desempregado.

Como muitos que estão na procura de uma recolocação, eu tenho contas a pagar, um filho para criar e tenho que me alimentar. Talvez hoje se não fosse a ajuda da família, estaria numa situação bem crítica na vida, ou seja, vivo o pior momento da minha vida, onde meu filho mora em outro estado, não o vejo há um ano e meio, não posso ajuda-lo financeiramente e muito menos poder está perto e acompanhar a sua fase de crescimento, onde ele cresce sem a presença de um pai ausente por força maior. Isso tudo é um motivo para está em depressão, algo que diariamente tento enfrentar para não entrar de vez. Imagina essa minha história contadas por outros tantos que devido ao desemprego e falta de oportunidade perderam suas casas, suas vidas ou foram para o caminho errado.

Mas voltando ao início do artigo. Quando perdi o emprego, acreditei que isso seria algo passageiro e que voltaria em breve ao mercado de trabalho, principalmente na área de educação onde estava me formando em história. Entreguei 50 a 100 currículos por dia, me cadastrei em diversos sites de empregos, entrei em grupos do Facebook, segui pessoas ligados ao Recursos Humanos no LinkedIn. Toda regra seguida pelos "especialistas" e nenhum resultado. Essas regras não são para todos, vale para aqueles que tem uma renda para investir nisso e tempo para pesquisar e ter o currículo de agrado para aqueles querem ver o que ensinam, fora isso, se não faz parte desse ciclo, com certeza é excluído do sistema.

Para nós que estamos desempregados, há regras, talvez parecidas com aqueles que tentam uma vaga no mestrado. Hoje o currículo precisa seguir regras de formatação, palavras chaves e um bom resumo, assim talvez isso chama a atenção dos recrutadores. sendo apenas o básico, já que por baixo disso, vem o preconceito. Anos atrás, o Jornal Extra publicou uma reportagem que empresas do Centro e da Zona Sul do Rio de Janeiro não estariam mais contratando moradores da Zona Oeste e da Baixada Fluminense por causa do transporte, do trânsito e da violência. Isso prova que o local que você mora é mais importante que a sua experiência. Basta ver hoje os anúncios com pré-requisito como morar próximo uma passagem ou modal, sendo que mais de 80% das vagas são nesses lugares, como fácil acesso ao Metrô, que não tem nos locais de maior população. Além disso, hoje as empresas e recrutadores entram nas suas redes sociais e dependendo do que podem encontrar, descartam seu currículo automaticamente. Sem falar do preconceito em questão de raça, gênero e ideologia que também te elimina por informações básicas, exemplo o meu currículo que tem formação em história e no momento polarizado do país, pode significar que eu seja de esquerda. No livro como conquistar e manter emprego do Vladimir Crivelini, o autor falou que quase deixou de contratar um funcionário por ser gordo por achar que não exerceria tal função, mas desistiu da ideia, contratou e ele fez um bom serviço e foi promovido em seis meses. Por pré julgamento, ele nem seria contratado e não teríamos essa história. Quantas pessoas não tiveram essa oportunidade por isso?

Muitas pessoas falam que isso é apenas uma fase, que eu precise acreditar e persistir para chegar ao sucesso como conseguir um novo emprego. Talvez eu vivo o meu momento em questão de conhecimento, mas se depender dessas pessoas, não vou chegar ao êxito e vou acabar vivendo na informalidade e no subemprego. O que me resta é catar latas, vender balas na rua ou escrever livros e artigos para gerar uma renda. Acreditar que estarei empregado novamente virou quase uma ilusão da minha vida, pois pelo visto, sou uma exceção dessa regra imposta e garanto que tenha milhões de pessoas parecidas com a minha história, onde por mais que busque, talvez não tenha oportunidade por pré julgamento ou por não ter uma oportunidade de buscar o que eles desejam. Então amigos, vamos ser a exceção e buscar o nosso com as nossas pernas e sem dependência daqueles que nos avaliam ou fingem avaliar se está apto ou não.
 

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