Desde 1889 quando o Brasil proclamou a república e se
tornou um país democrático, muitos presidentes não conseguiram completar os
seus mandatos e apenas três foram eleitos e terminaram seu mandato: Juscelino,
Fernando Henrique Cardoso e Lula, entretanto, o país que segue o sistema
presidencialista, onde deveriam terminar o seu mandato não consegue por causa
de interesses de determinados grupos e o enfraquecimento da sua base aliada,
obrigando a renunciar ou ser impedido, como o ocorrido na ultima terça-feira
com o impedimento da presidente Dilma Rousseaf (Clique Aqui), entrando para mais uma história
triste da nossa democracia brasileira, que desde o marechal Deodoro da Fonseca,
derrubado pelas Forças Armadas depois de fechar o Congresso, até Fernando
Collor de Mello, que renunciou em 1992 após ver seu impeachment aprovado pela
Câmara, antes do ocorrido com a Dilma.
Abaixo os presidentes que foram impedidos ou renunciaram:
Marechal
Deodoro da Fonseca (1891)
O marechal liderou o levante das Forças Armadas que
derrubou Dom Pedro 2º em 1889, se tornando o primeiro presidente da República,
porem seu governo durou apenas dois anos governou provisoriamente até fevereiro
de 1891, quando foi eleito indiretamente, mas sem apoio dos parlamentares, fechou
o congresso. Outro marechal, o vice-presidente Floriano Peixoto, contou com
apoio da Marinha, obrigando a Deodoro, que acabou renunciando.
Washington
Luís e Júlio Prestes (1930)
Eleito em 1926, Washington Luís foi o último presidente
da República Velha, conhecida pelo domínio das oligarquias paulista e mineira
no poder. Washington Luís enfrentou a crise internacional de 1929, que afetou
diretamente a exportação brasileira de café, e resistência dos militares, mas
conseguiu eleger seu sucessor, o então governador paulista, Júlio Prestes, no
pleito de 1930, que venceu a eleição em março, derrotando Getúlio Vargas, em um
pleito marcado por denúncias de fraude e rachas entre as oligarquias. Com a
derrota e apoio dos militares, Vargas foi até a capital exigir a saída de
Washington Luís, deixando o Palácio do Catete preso, rumo ao Forte de
Copacabana.
Getúlio
Vargas (1945 e 1954)
Líder da revolução de 1930, Vargas foi presidente do
Brasil até 1934 de forma provisória. Depois foi eleito de forma indireta
ficando até 1938, porém no anterior ele estabeleceu o Estado Novo, ficando até
1945, mas sem apoio e enfrentando uma forte oposição, reestabeleceu a
democracia, permitindo a volta dos partidos e convocando novas eleições, porém,
foi deposto sem ter os direitos cassados, sendo eleito como senador até 1951,
quando foi eleito novamente presidente, mas com oposição de militares,
empresários e de políticos, como Carlos Lacerda, da UDN e em meio a denúncias
de corrupção envolvendo seu governo, Vargas enfrentou e superou um processo de
impeachment em junho de 1954. Em 5 de agosto, no entanto, a situação se agravou
após o Atentado da Rua Tonelero contra o Lacerda, que vitimou o major da FAB
Rubens Vaz. O ato foi supostamente orquestrado pela segurança de Getúlio. Mesmo
acuado por políticos e militares, ele se recusou a renunciar e sem alternativas
deu um tiro no peito no Palácio do Catete em 24 de agosto. Sua morte provocou
comoção popular e reverteu a onda de rejeição a Vargas por causa das polêmicas
em seu segundo mandato, levando o presidente ao status de herói nacional.
Carlos
Luz (1955)
Com a morte de Vargas, o vice-presidente Café Filho
assumiu o cargo, mas a tensão política persistiu e nas eleições de 1955, venceu
a chapa formada por Juscelino Kubitschek (PSD) e João Goulart (PTB), por uma
pequena vantagem sobre Juarez Távora (UDN). Com a derrota, a UDN e a oposição
tentou articular um golpe para evitar que Juscelino assumisse o poder e em
novembro de 1955, 50 dias antes da posse de JK, Café Filho se afastou por
motivos de saúde. O presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, herdou o
cargo interinamente, mas foi deposto três dias depois pelo general Henrique
Lott, com apoio do Congresso, pela acusação de conspirar contra JK.
"Carlos Luz disse que o Juscelino não podia ser considerado legítimo
conseguindo só 35% dos votos", tentou reagir, mas desistiu. Com o país em
estado de sítio, Nereu Ramos, vice-presidente do Senado, assumiu o cargo até a
posse de JK.
Jânio
Quadros (1961)
De ascensão meteórica, Jânio venceu as eleições de 1960
com apoio da UDN e votação recorde, mas desde o início sofreu forte oposição no
Congresso, mesmo com promessa de caçar os corruptos, caiu no mesmo ritmo da
alta dos preços no país e ainda reatou as relações com a União Soviética e
homenageou Che Guevara, desagradando militares, os Estados Unidos e a UDN,
preocupados com a relação de Jânio com países e líderes socialistas, ficando sem
apoio do Congresso, renunciando em 25 de agosto de 1961 e o vice-presidente
João Goulart assumiria a presidência.
João
Goulart (1964)
João Goulart, ex-ministro de Vargas ligado ao
sindicalismo, sofria uma oposição ainda maior, tanto civil quanto militar que
Jânio Quadros. Goulart estava na China no dia da renúncia de Jânio e só voltou
quando o Congresso aprovou uma emenda institucional que instaurou o
parlamentarismo. Em janeiro de 1963, Jango convocou um plebiscito que decidiu
pelo retorno do presidencialismo, retomando seus poderes de presidente. Mesmo
assim, Goulart continuou sem apoio parlamentar e tentou mobilizar as classes
populares para conseguir governar. Em março de 1964, com o país polarizado,
Jango discursou na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, falando sobre a
intenção de promover a reforma agrária, provocando a ira dos militares,
empresariado, Igreja Católica, imprensa e setores conservadores que se uniram,
sob o temor das reformas de base e de um regime socialista, e Goulart foi
deposto pelo Exército entre 31 de março e 2 de abril, quando partiu para o
Uruguai.
Fernando
Collor (1992)
Primeiro presidente no poder ficou menos de três anos no
poder. O país enfrentava um momento de grave crise econômica, com
hiperinflação, e as primeiras medidas de Collor para conter a recessão foram
congelar preços e salários e confiscar os depósitos bancários, perdendo o apoio
popular e do Congresso e com as denúncias de um esquema de corrupção comandado
por Paulo César Farias, seu tesoureiro na campanha presidencial, abalaram o
governo, que sofreu um processo de impedimento. Em meio a grandes manifestações
pela saída de Collor, foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 29 de setembro
de 1992, sendo afastado da presidência, dando lugar ao vice Itamar Franco.
Collor renunciou em 29 de dezembro, um dia antes de o Senado votar a favor do impedimento
e da perda de mandato.
Depois do impedimento do Fernando Collor, Fernando
Henrique e Lula sofreram diversas pressões e sobreviveram a vários entradas
processos de impedimentos, mas com a base aliada fortalecida, não foram para
frente, coisa que não ocorreu com a Dilma, que no decorrer da história da nossa
democracia, se viu enfraquecida, sem apoio popular e do congresso, se tornou
mais um da lista dos presidentes que perderam o seu mandato e apesar do que
vimos nesse artigo, foram vitimas de um jogo político que em vez de solucionar
as crises que o Brasil viveu, aceitando o mandato até o fim, conforme pede o presidencialismo,
preferem pressionar até que seja impedido ou renunciado e parece que será assim
em nossa democracia, que infelizmente é triste e ninguém deve querer mudar.
Joseclei Nunes (@JosecleiNunes) é
fundador e editor do blog Futebol Retrô. Escritor, graduando em
História. Ama futebol, política, escolas de samba e um bom papo de
botequim.
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