terça-feira, 25 de outubro de 2011

Cristina Kirchner e a derrota da mídia golpista argentina


"A Lei não é para controlar ninguém, mas para impedir que o povo seja controlado." Cristina Kichner sobre a Ley de Medios, que regulamenta a mídia na Argentina.

Texto de Joseclei Nunes (@JosecleiNunes)

América Latina assistiu, neste final de semana, a um dos capítulos mais sólidos do processo de fortalecimento democrático do continente. No domingo (23), 54% dos argentinos respaldaram a atual gestão de Cristina Kirchner. A vitória acachapante da atual presidente, que concorria à reeleição, é uma mostra do avanço dos povos latino-americanos rumo a uma administração independente, com crescimento econômico respaldado por maior justiça social e soberania.

Esse movimento progressista na América se estende por mais de uma década, tendo como expoentes no continente os governos de Argentina, Bolívia, Brasil, El Salvador, Equador, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Venezuela, além de Cuba – que há meio século desafia o governo estadunidense, responsável pelo criminoso bloqueio econômico imposto à ilha. Historicamente considerados “quintal” dos Estados Unidos, esses países romperam com o Consenso de Washington vigente durante a década de 1990 e ousaram reivindicar a independência dos povos, tendo como prioridade os avanços na área social e a consolidação do vitorioso processo de fortalecimento de uma América Latina soberana, que caminha para a superação das desigualdades e injustiças do continente.

A vitória de Cristina Kirchner também deveria servir de lição ao Brasil. Ela representa uma dura derrota da mídia monopolizada e manipuladora, que ergueu seu império durante a ditadura militar argentina. Os meios de comunicação, em especial o poderoso Grupo Clarín, fizeram de tudo para desestabilizar e derrubar o governo de Cristina, rotulado de “populista e esquerdista”.

A mídia golpista chegou a insuflar um locaute dos barões do agronegócio, que paralisou e desabasteceu o país. Durante todo o seu governo, a imprensa produziu factóides, travestindo-se de “ética”, para desgastar a presidenta. Ela nunca reconheceu os avanços políticos, econômicos e sociais do governo. Filhote da ditadura, a mídia nunca abandonou o receituário neoliberal.

Mas Cristina Kirchner não se dobrou à pressão da imprensa golpista. Nunca ficou de “namoricos” com os donos da mídia. O seu governo submeteu ao debate na sociedade uma nova lei sobre comunicação, a famosa Ley de Medios. O novo marco regulatório, aprovado em outubro de 2009, determina o fim do monopólio na rádio e TV e incentiva a pluralidade e diversidade informativos.

O grande triunfo foi baseado fundamentalmente no crescimento econômico que o país atravessa, na ausência de uma oposição unificada, e pelo fato de o primeiro período do governo de Cristina Kirchner (2007-2011) "ter se mantido dentro dos limites do populismo", considerou o professor de relações internacionais Carlos Romero, da Universidade Central de Venezuela.

"Essa esquerda populista tem sido uma característica de nossa política (na América Latina) em todo o século XX e nesta parte do século XXI", com uma forte presença do Estado e do partido oficial, ressaltou.

Para quem, enfim, ainda se pergunta pelas razões da vitória de Cristina Kirchner, um pouco de números talvez ajude a encontrar a resposta. Para começo de conversa, a economia cresce ao ritmo de mais de 6% ao ano. O desemprego é baixo, a maior parte dos trabalhadores chegou a acordos que asseguraram ganhos salariais reais, os programas sociais do governo atendem a milhares de famílias. Um dos muitos subsídios atende a três milhões e meio de menores de 18 anos de idade, com a única condição de que freqüentem a escola e façam as vacinações obrigatórias. Em quatro anos – entre 2007 e 2010 – a pobreza baixou de 26% a 21,5% da população.

A oposição feroz dos grandes conglomerados dos meios de comunicação, a resistência desrespeitosa dos grandes magnatas do campo, as chantagens dos grandes barões da indústria, a virulenta má vontade das classes mais favorecidas, tudo isso somado não foi capaz de abalar o prestígio da presidente. Ela conquistou apoio de amplas faixas do eleitorado mais jovem, abriu espaço junto aos profissionais liberais, recebeu o voto massivo dos pobres.

Tudo indica que o terceiro mandato do partido Peronista na Argentina vai aprofundar as mudanças iniciadas em 2003. Oxalá que assim seja e que possamos tomar como exemplo os avanços conseguidos pelo país vizinho. De acordo com Patricio Echegaray, secretária-geral do Partido Comunista da Argentina, em artigo publicado em seu blog, a mudança estrutural no capitalismo da Argentina “é a única forma de impedir a ofensiva restauradora das direitas ou uma possível descomposição que pode afetar o chamado projeto nacional”.

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